Décima nona Lição

AS 16 REGRAS FUNDAMENTAIS DA LÍNGUA ESPERANTO

304. REGRA 1ª — Não existe, em Esperanto, artigo indefinido. Não se traduz, portanto, o artigo indefinido “um” e suas variações. Ex.: Numa árvore próxima cantava um canário — Sur arbo proksima kantis kanario.

O artigo definido é la, o mesmo para todos os gêneros, casos e números. Ex.: O(s) menino(s) e a(s) menina(s) — La knabo(j) kaj la knabino(j). Eu vi o cão e os gatos — Mi vidis la hundon kaj la katojn.

OBSERVAÇÃO — Em Esperanto não se usa o artigo definido: com os nomes próprios (vejam-se os §§ 27 a 34), com os adjetivos possessivos, com o vocabulo ambaŭ (ambos, ambas), com determinativos correlativos: ĉiu, ĉiuj, kiu, kiuj, kio etc. Ex.: O Pedro e a Maria — Petro kaj Maria. O Brasil — Brazilo. Os meus filhos — Miaj infanoj. Ambas as mãos — Ambaŭ manoj. Todo o homem erra — Ĉiu homo eraras. Todos os países com os quais mantemos relações — Ĉiuj landoj, kun kiuj ni interrilatas. Tudo o que existe — Ĉio, kio ekzistas.

305. REGRA 2ª — O substantivo termina, no nominativo singular, sempre em o; para a formação do plural acrescenta-se-lhe j, assim: libro (livro, um livro), libroj (livros).

Existem apenas dois casos: nominativo e acusativo; este último se forma do nominativo com o acréscimo de um n: libron, librojn. Os demais casos se exprimem por meio de preposição adequada: o genitivo por de (em Português também “de”); o dativo por al (em Português “a”); o ablativo por per (em Português “por”) ou por outra preposição, conforme o sentido.

NOTA — Usa-se, em Esperanto, o acusativo: 1. No complemento direto do verbo, ex.: Mi vokas la fraton — Eu chamo o irmão. Mi amas vin — Eu vos amo. 2. Para indicar o alvo dum movimento: a) sem preposição: Mi veturas Londonon — Viajo para Londres. Ni iru domen — vamos para casa; b) com preposição, que por si mesma não indique direção: La muso kuris sub la liton — O camundongo correu para debaixo da cama. Mi prenos sur min tiun taskon — Tomarei sobre mim essa tarefa. Mi iris en la liton — Fui para a cama. Se a preposição, em si, já indica direção, não se usa o acusativo: tais são al (a) e ĝis (até). 3. Para substituir uma preposição, p. ex.: Li dormis tri horojn (em vez de: Li dormis dum tri horoj) — Ele dormiu (durante) três horas.

306. REGRA 3ª — O adjetivo (qualificativo) termina, no nominativo singular, em a, formando os números e casos como o substantivo, ex.: bona (bom, boa), bonaj (bons, boas); acusativos: bonan, bonajn.

O comparativo (de superioridade) se forma com o vocábulo pli (mais); o superlativo relativo (de superioridade) com plej. O comparativo é seguido da conjunção ol (do que, que); o superlativo é seguido da preposição el. Ex.: Johano estas pli juna, ol Marta, sed Ernesto estas la plej juna el ĉiuj — João é mais moço do que Marta, mas Ernesto é o mais moço de todos.

307. REGRA 4ª — Os numerais cardinais (palavras que não são declináveis) são: 1 unu, 2 du, 3 tri, 4 kvar, 5 kvin, 6 ses, 7 sep, 8 ok, 9 naŭ, 10 dek, 100 cent, 1000 mil. As dezenas e as centenas formam-se pela simples junção dos numerais; p. ex.: 11 dek unu, 12 dek du, 20 dudek, 30 tridek, 101 cent unu, 369 tricent sesdek naŭ. Para formar os numerais ordinais (primeiro, segundo,...) acrescenta-se a terminação a do adjetivo: unua, dua,... dek-kvina,...; para os múltiplos, o sufixo obl: duobla (duplo); para os coletivos, op: duope (dois a dois, os dois juntos); para os distributivos, emprega-se a preposição po: po dek (à razão de dez). Além disso, podem os numerais tomar a forma substantiva (por exemplo: deko = dezena) e a adverbial (p. ex.: unue = em primeiro lugar; duoble = duplamente, duas vezes).

308. REGRA 5ª — Os pronomes pessoais são: mi teu), vi (tu), li (ele), ŝi (ela), ĝi (ele, ela — para objeto ou animal), si (si), ni (nós), vi (vós), ili (eles, elas), oni (se, “a gente”, Francês “on”). Para formar os possessivos, acrescenta-se a terminação a dos adjetivos: mia (meu, minha), via (vosso, vossa) etc. A declinação é a mesma dos substantivos.

NOTA — Reparar-se-á na ausência do pronome ci nessa lista; é que raramente se emprega, aparecendo mais na poesia. O pronome corrente de tratamento, em Esperanto, é vi, que traduz as formas portuguesas usuais “tu, vós, você, vosmecê, o Sr., a Sra., vocês, vosmecês, os Srs., as Sras.”. Via pode, portanto, ser: “teu, tua, seu, sua, vosso, vossa, do Sr., da Sra., dos Srs., das Sras.”.

O título geral de cortesia é moŝto, conforme visto no § 303.

309. REGRA 6ª — O verbo não varia em pessoa nem em número. As terminações dos modos e tempos são as seguintes: presente, as; passado, is; futuro, os; modo condicional, us; imperativo, u; infinitivo, i. Particípios ativos: presente, ant; passado, int; futuro, ont; particípios passivos: presente, at; passado, it; futuro, ot. Todos podem ter o sentido de adjetivo, advérbio ou substantivo. Todos os tempos da voz passiva se obtêm combinando a respectiva forma do verbo esti (ser, estar) com o particípio passivo do verbo em causa. A preposição na voz passiva é de (em Português por, ou de).

310. REGRA 7ª — Os advérbios derivados terminam em e; seus graus de comparação se formam como os dos adjetivos. Assim: longe (longamente), matene (de manhã), parole (oralmente), ĉirkaŭe (em torno), plie (a mais), dise (disseminadamente), are (em grupo) etc. Li loĝas tiel proksime de la placo, kiel mi — Ele mora tão perto da praça quanto eu. Mi venis pli frue, ol li — Eu cheguei mais cedo do que ele. Plej antaŭe iris la standardo — Na frente de todos (à letra: “o mais à frente”) ia o estandarte.

311. REGRA 8ª — Todas as preposições, por si mesmas, pedem o nominativo. Ex.: La birdo flugas en la ĉambro — O pássaro voa (ou “está voando”) no quarto. Mas: La birdo flugas en la ĉambron — O pássaro voa (agora) para dentro do quarto. Veja-se comentário à Regra 2ª.

312. REGRA 9ª — Toda a palavra se lê como está escrita. Como consequência, não há letras mudas ou mortas; e, bem assim, cada letra tem um único som e a cada som corresponde uma única letra.

313. REGRA 10ª — O acento tônico sempre cai na penúltima sílaba. Isso se refere às palavras completas, i.e. às não apostrofadas, conforme se observou no § 15, item b.

314. REGRA 11ª — Formam-se palavras compostas pela mera junção das palavras, devendo a palavra principal ficar no fim. As terminações gramaticais também se consideram como palavras autônomas.

315. REGRA 12ª — Havendo na frase outra palavra negativa, suprime-se a partícula negativa ne. Ex.: Li NE timis ION ajn; mas: Li timis NENION ajn — Ele não tinha medo de nada (fosse o que fosse).

316. REGRA 13ª — Para indicar direção, ou melhor, alvo, (de um movimento), as palavras recebem a terminação n do acusativo. Veja-se comentário à Regra 2ª.

317. REGRA 14ª — Toda preposição tem uma significação definida e constante; se, porém, temos de usar uma preposição e o sentido não indica bem qual, precisamente, a que convém, então empregamos a preposição je, que não tem significação própria. Em vez da preposição je, pode usar-se também o acusativo sem preposição. Ex.: Kredi je Dio — Crer em Deus. Je la lasta fojo (ou: La lastan fojon) — Pela última vez. Veja-se a última parte da “Nota” na Regra 2ª.

318. REGRA 15ª — As chamadas palavras “estrangeiras”, isto é, aquelas que a maior parte das línguas colheram de uma fonte, são empregadas, em Esperanto, sem alteração, apenas recebendo a ortografia dessa língua; mas nas diversas palavras provenientes de um radical é melhor usar sem nenhuma alteração só o vocábulo fundamental, deste formando as demais palavras consoante as regras do Esperanto. Ex.: teatro teatro, teatra teatral; Fiziko Física (ciência), fizika físico (adjetivo),fizikisto físico (substantivo, o que se ocupa com a Física); Azio Ásia, azia asiático (adjetivo), aziano asiático (substantivo, habitante, ou natural, da Ásia); etc.

319. REGRA 16ª — A vogal final do substantivo (o) e a do artigo (a) podem ser suprimidas e substituídas por um apóstrofo.

NOTA — Essa permissão tem relevante importância para a poesia. Os substantivos assim apostrofados têm acentuada a última sílaba, que é a penúltima da palavra completa. Na prosa, só se pode apostrofar o artigo, se precedido este de preposição que termine por vogal: ĉe, de, je, pri, pro e tra. Nunca se apostrofe desde que a pronúncia se torne difícil ou se daí resulte ambiguidade.

Exercício n.º 37

Vocabulário

Akademio — academia.
Daŭro — decurso.
Elekti — eleger.
Energio — energia.
Esenco — essência.
Imponanta — imponente.
Komitato — comissão.
Materiala — material.
Morala — moral.
Ofero — sacrifício.
Pacienco — paciência.
Partopreni — participar.
Utopio — utopia.

Por ke la legantoj iom komprenu la esencon de la afero Esperanta, ni devas atentigi ilin, ke Esperanto ne sole montriĝis kiel lingvo eksterordinare facila, riĉa, vivipova kaj perfekte taŭga por ĉiuj bezonoj de la vivo, sed ĝi estas ankaŭ nenies propraĵo, nek en rilato mate­riala, nek en rilato morala. En rilato materiala ĝi apar­tenas al la tuta mondo, en rilato spirita ĝiaj leĝdonantoj estas la plej talentaj Esperantaj aŭtoroj, sub la kontrolo de konstanta akademio (“Lingva Komitato”), elektata de la esperantisto] mem. Jam pli ol dudek jarojn

(Isto foi escrito em dezembro de 1907. Ao aparecer a 6ª edição deste livro, cumpre dizer: “Há mais de 75 anos, o Esperanto cresce normalmente e já se impôs até aos mais céticos.”)

la esperantistoj energie kaj pacience laboras por sia afero. Longan tempon la mondo rigardadis ilin kiel utopiistojn kaj frenezulojn; sed dank'al la pacienca kaj sinofera laborado de multaj miloj. da personoj, la mondo fine ŝan­gis sian opinion. Tio, kio en la daŭro de miljaroj estis rigardata kiel frenezaĵo, nun komencis esti rigardata kiel afero serioza kaj eksterordinare grava. Ĉiutage aliĝas al Esperanto multaj novaj personoj en ĉiuj landoj de la mondo. La praktika uzado de Esperanto pligrandiĝas kaj plidiversiĝas kun ĉiu tago; la literaturo de Esperanto estas jam grandega kaj kreskas rapidege kun ĉiu tago kaj horo. Kiel grandega estas jam nun la armeo de la esperantistoj kaj kiel grandega estas la praktika taŭgeco kaj la morala valoro de Esperanto, tion montras interalie la ĉiujaraj kongresoj esperantistaj, kiuj prezentas jam nun ion eksterordinare imponantan, kvankam en la kon­gresoj kompreneble povas partopreni nur tre malgranda parto de la esperantistoj kaj el cent esperantistoj apenaŭ unu havas la eblon partopreni. Kaj ni havas plenan rajton esperi, ke post tre malmultaj jaroj nia celo estos fine plene atingita, la lingvo internacia fariĝos en la tuta mondo fakto plenumita kaj la bela multemiljara revo de la homaro estos efektivigita.

(El “Leteroj”, de L. L. Zamenhof.)

MÉTODO DIRETO

Respondu: Ĉu Esperanto taŭgas por ĉiuj bezonoj de la vivo? Kies propraĵo ĝi estas? Kiu estas la plej kom­petenta esperantisto? (Resposta: O próprio Zamenhof.) Kiel la mondo rigardas nun Esperanton? Ĉu la Esperanto- movado staradas (= estaciona) aŭ ĉiam kreskas? Ĉu vi trovas utilaj la kongresojn esperantistajn? Kio estas la “morala valoro” de Esperanto? (Resp.: Aproxima os homens e, assim, eles melhor se conhecem, tornando-se (por isto) amigos verdadeiros.) Kio estas tiu “revo de la homaro”, pri kiu Zamenhof aludas? (Resp.: A paz, em “um grande círculo familiar”.)

Exercício n.º 38

Vocabulário

Açude — Akvujego.
Agricultura — Agrikulturo.
Anjo-guardião — Anĝelo-gardanto.
Apreciar — Taksi.
Blasfêmia — Blasfemo.
Capital — Ĉefurbo.
Conceder — Doni.
Contínuo — Kontinua.
Contratar — Dungi.
Culto — Klera.
Destino — Destino.
Dominar — Regi.
Dono — Mastro.
Eletricidade — Elektro.
Enfronhar-se — Enprofundiĝi.
Forte — Fortanima.
Ginásio — Gimnazio.
Instalar — Instali.
Interior — Internlando.
Moderno — Moderna.
Pecuária — Brutbredado.
Processo — Procedo.
Profissional — Profesiisto.
Sertanejo — Enlandido.
Velar — Zorgadi.
Veludo — Veluro.

Embora sertanejo, meu pai era um homem culto. Não se pense que ele jamais saíra do interior; estivera na Capital, onde chegou a concluir o ginásio, mas, nesse tempo, lhe morreu o pai. Assim (tial), teve de voltar à fazenda, que precisava dos olhos do dono. Enfronhou-se, então, nos processos mais modernos da agricultura e da pecuária; contratou profissionais, mandou vir máquinas, construiu açudes, instalou eletricidade, e ainda (krome) assinava revistas. Possuía biblioteca de boas obras, como talvez não a possuíssem muitos na cidade. Tinha uma vontade de ferro e um coração de veludo: Não cedia a caprichos, mas sabia compreender; severo no admoestar, mas justo no apreciar. Dos seus lábios, nunca (lhe) ouvimos uma blasfêmia: era um forte, e os fortes dominam o destino.

Foi, pois, esse o lar que Deus nos concedeu, onde o anjo-guardião da melhor das mães (= esse anjo-guardião, a melhor...) velava pela paz em contínua oração ao Senhor de todas as criaturas, na alegria de viver uma vida realmente cristã.